Você chega cedo ao trabalho, entrega tudo no prazo, se dá bem com
seus colegas e conhece os processos como ninguém. Ainda assim, está há
anos no mesmo cargo, fazendo o arroz com feijão de sempre. De repente,
chega um novato na área. Ele é jovem, tem as roupas da moda, se deu bem
com a chefia e, pior, começou a abocanhar os melhores projetos. Em 6
meses lá está ele, promovido, na vaga que deveria ser sua. Em dois anos,
ele virou seu chefe. No fim, você teve de reconhecer o talento do
novato e aceitar que você não nasceu para ser chefe. Mas será que é isso
mesmo? O que as pessoas bem-sucedidas têm que você não tem? A resposta,
dolorida, é: nada. Absolutamente nada. Seu chefe, o dono da empresa, o
Kaká e o presidente Lula não vieram ao mundo com um sinal gravado nos
genes que diga: eu nasci para brilhar. Muito menos têm um talento inato
que você não possui. Para desespero dos medíocres da nação, a ciência
está descobrindo que todo mundo (e isso inclui você) teria potencial
para ser a bolacha mais recheada do pacote. Aqui você vai descobrir como
- e o que pode dar errado no meio do caminho.
É difícil se acostumar com a ideia de que nascemos todos com as mesmas
chances de brilhar. Principalmente quando olhamos para aquelas pessoas
que parecem ter habilidades sobrenaturais - aquelas que fazem você se
lembrar diariamente das suas limitações: as crianças prodígios, por
exemplo. A maior de todas as crianças prodígios foi Wolfgang Amadeus
Mozart (perto dele, a menina Maysa é amadora). Aos 3 anos, o austríaco
começou a tocar piano, aos 5 já compunha, aos 6 se apresentava para o
rei da Bavária de olhos vendados, aos 12 terminou sua primeira ópera. Há
séculos, ele vem sendo citado como prova absoluta de que talento é uma
coisa que vem de nascença para alguns escolhidos. Mas parece que não é
bem assim. A vocação de Mozart não apareceu do nada. Seu pai era
professor de música e desde cedo dedicou sua vida a educar o filho.
Quando criança, Mozart passava boa parte dos dias na frente do piano. As
primeiras peças que compôs não eram obras-primas - pelo contrário,
contêm muitas repetições e melodias que já existiam. Os críticos de
música, aliás, consideram que a primeira obra realmente genial que o
austríaco escreveu foi um concerto de 1777, quando o músico já tinha 21
anos de idade. Ou seja, apesar de ter começado muito cedo, Mozart só
compôs algo digno de gênio depois de 15 anos de treino.
A regra das 10 mil horas
Quer
brilhar muito na vida? Passe 10 mil horas praticando. Pelo menos, foi
isso que os grandes especialistas de todas as áreas fizeram.
Os genes não determinam o sucesso. Isso é bom, porque quer dizer que
basta você se esforçar para melhorar o seu desempenho. E isso é ruim
também, porque você depende apenas do seu suor para chegar lá. Suor, no
caso, são 10 mil horas. Entenda aqui o tamanho da encrenca:
O mesmo pode ser observado com talentos das mais diversas áreas.
Ronaldo, o Fenômeno, tinha de ser arrancado dos campos de futebol quando
criança porque não queria fazer nada que não fosse jogar bola. Os
técnicos de Michael Jordan se lembram de que o jogador era sempre o
primeiro a chegar aos treinos e o último a ir embora. E mesmo Bill
Gates, como bom nerd que era, não fez sua fortuna do nada: quando
adolescente, ele passou boa parte da sua (não muito agitada) vida
programando computadores enfurnado numa sala da Universidade da
Califórnia. Ou seja, mesmo aquelas pessoas bem-sucedidas, que parecem
esbanjar talento, ralaram muito antes de chegar lá.
Isso faz
todo sentido, se considerarmos a nova maneira como os cientistas têm
enxergado a influência dos genes na formação de talentos. Aquilo que
costumamos chamar de "talento natural para liderança" ou "aptidão nata
para os esportes" parece não ter nenhuma relação com o nosso DNA. "Não
há nenhuma evidência de que exista uma causa genética para o sucesso ou o
talento de alguém", diz Anders Ericsson, professor de psicologia da
Universidade da Flórida que há 20 anos estuda por que algumas pessoas
são mais bem-sucedidas do que outras. A questão aí reside no fato de os
genes (e sua interação com a nossa vida) serem um assunto tremendamente
complexo - que dá pesadelos até nos geneticistas mais gabaritados. Já se
sabe, por exemplo, que até mesmo traços diretamente ditados pelo DNA,
como a cor dos nossos olhos, são definidos por mais de um gene que se
relacionam entre si. O que dizer, então, de atributos mais complexos?
Há alguns anos, o fetiche dos laboratórios tem sido relacionar genes a
traços de personalidade ou a propensões para desenvolver distúrbios
psiquiátricos. O mais famoso deles é o 5-HTTLPR, que em 2003 virou
notícia ao ser chamado de o "gene da depressão". Ele previa uma
interação com o ambiente: quem tivesse sofrido um trauma pessoal e
carregasse o 5-HTTLPR em seu DNA teria também alta probabilidade de
ficar deprimido. Muitos outros estudos foram no embalo dessa descoberta,
e logo vieram à luz genes que explicavam a ansiedade, o déficit de
atenção, a hiperatividade e até a psicopatia. No ano passado, no
entanto, uma série de novos estudos virou essas descobertas de
ponta-cabeça. Numa revisão que incluiu todas as pesquisas já feitas
sobre o gene da depressão, concluiu-se que era impossível concluir que
ele influísse na doença. (Isso, sim, é deprimente.) Já com os outros
distúrbios, as descobertas foram ainda mais intrigantes. Os mesmos genes
que causariam ansiedade, psicopatia, hiperatividade etc. podiam ter os
efeitos opostos dependendo do ambiente em que o portador fosse criado.
Ou seja, quem carrega esses genes "malditos", mas não passa por traumas,
será muito mais ajustado do que quem não tem essas mutações. E o que se
conclui disso tudo? Bem, que os cientistas ainda vão quebrar a cabeça
por muito tempo. Se não dá nem pra dizer que existe um gene da
depressão, como falar, então, do gene da
"habilidade-de-driblar-adversários-e-chutar-a-bola-no-gol"? Ou seja,
ainda não há consenso entre os cientistas de que exista talento para
futebol (ou pra música ou pra gerir uma empresa). Pelo menos, não um
ditado pelo DNA.
99% transpiração
Em 1992, pesquisadores ingleses e alemães resolveram estudar pessoas
talentosas para entender o que as diferenciava dos reles mortais. Para
isso, investigaram pianistas profissionais e os compararam com pessoas
que tinham apenas começado a estudar, mas desistido. (Pianistas são
excelentes cobaias porque seu talento é mensurável: ou eles sabem
executar a música ou não sabem). O problema foi que os cientistas não
conseguiram achar ninguém com habilidades sobrenaturais entre as 257
pessoas investigadas - todos eram igualmente dotados. A única diferença
encontrada entre os dois grupos é que os pianistas fracassados tinham
passado muito menos tempo estudando do que os bem-sucedidos. Quer dizer,
não é que faltou talento para os amadores virarem mestres - faltou
dedicação.
Ok, isso não é novidade. Todo mundo sabe que a
prática leva à perfeição. A novidade é que, pela primeira vez,
cientistas conseguiram medir o tempo necessário de estudo para alguém se
destacar internacionalmente em alguma área: 10 mil horas. Foi a esse
número que o especialista em sucesso Anders Ericsson chegou depois de
observar os grandes talentos das mais diversas áreas. Todo mundo que foi
alguém, ele concluiu, do campeão de xadrez Kasparov ao Steve Jobs,
ficou esse tempo todo aperfeiçoando seu ofício. E não estamos falando de
exercícios leves. O que realmente faz alguém ficar bom em algo é treino
duro, dolorido, no limite do executável. No fim das contas, é treino
tão difícil que modifica seu cérebro. (Só para constar: estima-se que
aos 6 anos Mozart já tivesse estudado piano durante 3 500 horas. Quer
dizer, ele não era talentoso, era assustadoramente dedicado.)
É
aí que está a chave do sucesso: no cérebro (pra variar). Nosso cérebro é
formado por duas partes principais: a massa cinzenta (os neurônios) e a
massa branca. Durante muito tempo, acreditamos que a capacidade
cerebral estava escondida nos neurônios. Nos últimos 5 anos, no entanto,
neurologistas e psiquiatras resolveram estudar a massa branca, que até
então era ignorada. O que eles descobriram mudou a maneira de entender
as habilidades.
A massa branca é formada principalmente por
mielina, um tipo de gordura que envolve os axônios (aquele rabinho
comprido que todo neurônio tem). Ela serve de isolante para os impulsos
elétricos que percorrem o cérebro. Sempre se soube que a mielina estava
distribuída de forma irregular ao redor dos neurônios, mas só agora
descobriu-se por quê. Ela é depositada sobre as células nervosas com o
intuito de melhorar a condução da eletricidade. A distribuição desigual
serve para deixar os impulsos elétricos mais precisos - para chegarem ao
mesmo tempo nos neurônios, por exemplo (veja no quadro abaixo). À
medida que os impulsos elétricos se tornam precisos, eles coordenam
melhor os nossos movimentos e pensamentos. Isso vale para qualquer tipo
de ação: de jogar basquete a entender física quântica ou falar em
público. "Quando você pratica algo, a mielina se deposita e os sinais
entre as sinapses vão ficando mais eficientes. A mielinização leva à
perfeição", diz George Bartzokis, professor de psiquiatria da
Universidade da Califórnia, maior especialista do assunto no mundo. Esse
processo é tão importante que até um bebê recém-nascido só abre os
olhos depois que a mielina em seu cérebro se depositou nos lugares
certos. Da mesma forma, afirma Bartzokis, um idoso perde sua mobilidade
não porque seus músculos se atrofiaram, mas porque a mielina do cérebro
decaiu.
Pane no sistema
Para
a mielinização ser mais eficiente, é preciso errar muito e sempre. Você
já deve ter sentido isso na pele. Quando cai da bicicleta ou leva uma
bronca do seu chefe por causa de um relatório malfeito, você vai se
esforçar em dobro para o escorregão não acontecer de novo. "Se você
sempre repetir aquilo que já sabe, não há evolução. O ideal é falhar
tentando algo novo e mais difícil", diz Anders Ericsson. É nessa
condição que a mielina é mais eficientemente espalhada pelo cérebro. Os
que erram - e treinam mais - são também recompensados. Isso é visível em
ressonâncias magnéticas. Músicos, escritores e crianças que tiram nota
alta têm muito mais massa branca do que seus pares "comuns". Quem,
aliás, era recordista em massa branca era Einstein. Quando o cérebro do
físico foi dissecado, notou-se, entre outras coisas, uma quantidade
anormal de mielina. "Quem nunca errou nunca fez nada de novo", dizia
ele.
Na teoria, a mielina é muito linda: ela recompensa quem
se esforça e qualquer um pode ser bem-sucedido. Mas, como tudo na vida,
há algumas limitações (ou você acreditava realmente que poderia ser como
o Kaká?). O auge da mielinização acontece durante a infância, quando
toda forma de atividade é novidade e tem de ser aprendida: de abrir os
olhos a usar os talheres. Até os 30 anos, ela continua em alta escala - e
é justamente quando se aprendem novas habilidades com facilidade. Até
os 50, a mielina ainda pode ser ajustada em direção a um ou outro
aprendizado. Depois disso, infelizmente, as perdas são maiores que os
ganhos. A mielinização continua, mas para preservar as aptidões já
adquiridas. Ou seja, a má notícia é que, se você quisesse ter sido o
Kaká, deveria ter começado cedo. Já a boa é que, se você se contenta em
apenas melhorar o seu trabalho para ser promovido, há tempo de sobra.
Além da idade, há algumas limitações sérias. Há cérebros mais
preparados para mielinizar do que outros. Por exemplo, quem não consegue
metabolizar apolipoproteínas já sai perdendo. Elas são proteínas que se
ligam às gorduras (o colesterol, principalmente) e têm grande
influência na produção de mielina. (Mielina tem muito colesterol. Por
isso, se você andava cortando o ovo com medo de problemas cardíacos,
pense que isso pode estar emburrecendo você. Não é à toa também que
médicos ultimamente têm receitado ovo para pacientes com Alzheimer - ele
parece influir nas habilidades do cérebro.) Essa disfunção pode ser
detectada numa análise genética, mas, adivinhe só, como tudo que envolve
genes, ainda não está esclarecida.
Tem que lutar, não se abater
Se treino é responsável por boa parte do sucesso das pessoas que
chegaram ao ponto mais alto do pódio (outros fatores virão), é preciso
entender o que as levou a se esforçar tanto. Quem passa 10 mil horas da
vida se dedicando a qualquer coisa que seja tem pelo menos uma
característica muito ressaltada: o autocontrole. É ele que permite que a
pessoa não se lembre que seria muito mais legal dormir ou estar no bar
do que trabalhando. O teste do marshmallow, feito na Universidade
Stanford na década de 1960, é o melhor exemplo que se tem sobre a
ocorrência de autocontrole. Psicólogos ofereciam a crianças um grande
marshmallow e davam a elas a opção de comê-lo imediatamente ou esperar
um tempinho enquanto os psicólogos saíssem da sala. Se as crianças
esperassem, ganhariam de recompensa um segundo marshmallow. Apenas um
terço das crianças aguentava esperar, o resto comia o doce afoitamente.
(Há um vídeo na internet desse teste feito nos dias de hoje. As imagens
das crianças tentando resistir à tentação são de partir o coração.)
Depois, os pesquisadores acompanharam o desempenho dessas crianças nas
décadas seguintes. Aquelas que haviam esperado pelo segundo doce tinham
tirado notas mais altas no vestibular e tinham mais amigos. Depois de
anos estudando esse grupo de voluntários, concluiu-se que a capacidade
de manter o autocontrole previa com muito mais precisão a ocorrência de
sucesso e ajustamento - era mais eficiente do que QI ou condição social,
por exemplo. Por isso, tente sempre atrasar as gratificações - passe
vontade e não faça sempre o que der na telha: o segredo para o sucesso
pode estar aí.
A questão agora é entender por que algumas
pessoas abrem mão do prazer imediato em troca do trabalho duro, e por
que outras preferem sempre sair mais cedo do escritório. O processo
mental, na verdade, é muito simples: para ter autocontrole, é preciso
não ficar pensando na tentação e focar naquilo que é realmente
importante no momento - por exemplo, terminar o serviço. É possível que
esses traços tenham uma origem genética, mas é mais provável que a
diferença esteja em outro ponto importante para entender o sucesso:
motivação. Quem está motivado para ganhar uma medalha olímpica ou fazer
um bom trabalho também abre mão da soneca da tarde com mais facilidade.
Motivação e ambição são um negócio meio misterioso, na verdade. Não
funciona para todos da mesma maneira. "A maioria das pessoas sonha com
um emprego estável, um salário aceitável, um chefe legal. Nem todo mundo
tem ambição e quer crescer o tempo todo", diz Marcelo Ribeiro,
professor do departamento de psicologia social e do trabalho da USP.
Evolucionariamente, isso também faz todo o sentido. Durante séculos de
seleção natural, alguns poucos ambiciosos foram escolhidos para
conquistar os melhores pares, os maiores pedaços de comida e os cargos
de liderança. Infelizmente, toda essa fartura não pode ir para todos - e
a maioria teve de aprender a se satisfazer com o pouco que sobrou.
Dinheiro também não é a solução para todos os problemas. Nem sempre ele
funciona como um bom motivador. (Não deixe seu chefe ler isso, se você
estiver querendo um aumento.) Num estudo da Universidade Clark, nos EUA,
que testava a capacidade de voluntários de resolver problemas de
lógica, o dinheiro só atrapalhou. Aqueles que eram recompensados
financeiramente para chegar à solução levavam muito mais tempo para
resolver o problema. Os outros, sem a pressão do dinheiro, se deram
melhor. Em muitos casos, acreditar que você está fazendo algo relevante é
mais eficiente para motivação do que um salário mais rechonchudo. Não é
à toa, então, que empresas que esperam resultados inovadores têm
horários e cobranças flexíveis - para esses funcionários, fazer a
diferença e a ilusão de independência valem mais do que ganhar bem. "O
desejo de atribuir significado ao nosso trabalho é uma parte inata e
inflexível da nossa composição. É pelo fato de sermos animais
concentrados no significado que podemos pensar em nos render a uma
carreira ajudando a levar água potável à Malaui rural", escreve o
filósofo pop francês Alain de Botton, em seu livro Os Prazeres e
Desprazeres do Trabalho.
Agulha no palheiro
Christopher Langan e Robert Oppenheimer eram dois americanos de QI
sobre-humano (o de Christopher é um dos maiores de que se tem notícia:
195. O QI de Einstein, por exemplo, era 150). Christopher aprendeu a ler
sozinho aos 3 anos, aos 15 desenhava retratos tão realistas que
pareciam fotografias, aos 16 gabaritou o vestibular e perto dos 20
decidiu dedicar sua vida à física teórica. Já Robert fazia experimentos
químicos complexos aos 8 anos de idade, aos 9 já falava grego e latim e
aos 22 tinha concluído seu doutorado, com passagens pelas Universidades
Harvard e de Cambridge. Os dois, além de gênios, eram esforçados e
passaram a juventude enfurnados em livros - alcançaram facilmente a
marca das 10 mil horas de estudo. Robert virou um dos físicos mais
importantes do século 20 e ficou conhecido como o "pai da bomba
atômica", pois liderou o time que desenvolveu a arma durante a 2ª Guerra
Mundial. Já Christopher fracassou. Largou a faculdade em pouco mais de
um ano. Trabalhou como garçom, operário da construção civil e zelador.
Hoje, vive enfurnado em casa, sozinho, tentando elaborar uma teoria
geral que explique o Universo inteiro. O que foi que deu errado com
Christopher?
É duro dizer, mas sucesso depende também de uma
boa quantidade de sorte. Estar na hora e lugar certos é muito importante
- às vezes até mais do que as horas de treino. Christopher Langan, por
exemplo, nasceu em uma família pobre. Chegou à faculdade porque ganhou
uma bolsa de estudo. Mas teve de largar as aulas depois de perdê-la,
porque sua mãe, que nunca acompanhou ou incentivou seus estudos,
esqueceu-se de renovar o contrato que daria ao filho mais um ano de
estudos grátis. Sim, ele deu muito azar. Não por causa da mãe desleixada
- mas porque nasceu em uma família desestruturada. Um estudo feito na
Universidade do Kansas mostrou que crianças que crescem em classes
sociais mais baixas ouvem, em média, 32 milhões de palavras a menos nos
primeiros 4 anos de vida do que seus colegas abastados (sim, alguém
contou). Além disso, elas são expostas a um vocabulário menos variado e
não são incluídas nas conversas "de adulto". Isso pode não ter
consequências diretas na inteligência das crianças, mas tem na maneira
como elas se relacionam com as pessoas.
Ter habilidade social,
aliás, é fator determinante para ser bem-sucedido. E é esse o elemento
que foge das estatísticas da ciência. Em áreas em que os mais talentosos
são sempre recompensados, como nos esportes ou na música, a regra das
10 mil horas e a importância da persistência fazem sempre sentido. Mas,
em ambientes onde a competição é velada, como nos escritórios, o talento
pode facilmente ficar em segundo plano - e perder importância para o
tête-à-tête, as famosas afinidades. "A personalidade de uma pessoa afeta
não só a escolha do trabalho mas, mais importante, quão bem-sucedida
ela vai ser na carreira", diz Timothy Judge, especialista em carreira e
personalidade da Universidade da Flórida. Timothy revisou 3 estudos
longitudinais de personalidade que acompanharam a carreira de mais de
500 pessoas e chegou a conclusões interessantes. Pessoas
autoconscientes, racionais e que pensam antes de agir costumam ganhar
mais e subir mais cargos. Já quem é extrovertido e emocionalmente
estável é mais feliz. Para o pesquisador, depois de anos observando as
pesquisas, subir de status pode ser importante, mas o fator mais
determinante para o sucesso ainda é sentir-se realizado. "Se a pessoa
está infeliz no trabalho, tem de descobrir o que está atrapalhando.
Senão o sucesso não vem mesmo."
A fórmula do sucesso
Virados para a lua
Infelizmente,
nem tudo que ronda o sucesso depende só de você. Um tanto de sorte é
necessário para se dar bem na vida. Veja dois exemplos em que fatores
que fogem do seu alcance podem fazer toda a diferença.
Berços de excelência
Há alguns ambientes em que tudo acontece ao mesmo tempo e surgem
grandes oportunidades de sucesso. Foi o caso da Inglaterra nos anos 60,
bem no início do rock, quando dezenas de boas bandas, dos Beatles aos
Beach Boys, conquistaram o mundo. Ou do Vale do Silício na década de
1980, quando Bill Gates, Steve Jobs e Paul Allen aproveitaram o começo
da computação para criar suas empresas e faturar milhões. É questão de
sorte, mas procure sempre estar no lugar em que as coisas estão
acontecendo.
Dias especiais
O dia do nascimento
também pode interferir no sucesso (e não tem nada a ver com horóscopo). É
comum que num mesmo ano letivo estudem crianças que nasceram no 1º
semestre e outras que nasceram no 2º semestre do ano anterior. As que
nasceram no ano anterior, entraram na escola um pouco mais velhas. Essa
diferençazinha vira uma grande vantagem quando se trata de crianças
pequenas. Os mais velhos terão a coordenação motora e o desenvolvimento
intelectual mais adiantados do que os outros.
Para saber mais
Os Prazeres e Desprazeres do Trabalho
Alain de Botton, Rocco, 2009.
Fora de Série - Outliers
Malcolm Gladwell, Sextante, 2008.
O Código do Talento
Daniel Coyle, Agir, 2010.
The Genius in All of Us
David Shenk, Doubleday, 2010.
Fonte: Superinteressante http://super.abril.com.br/ciencia/sucesso-584272.shtml
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